Chegou a vez do Blu-ray? 

A pergunta do título desta matéria pode ser respondida com um sim, se o país em questão for os Estados Unidos. O aparelho reprodutor de discos em alta definição gerou apenas em 2009 no mercado norte-americano US$ 1 bilhão em lucro para as empresas de eletrônicos, de acordo com a Consumer Eletronics Association (CEA). A previsão segue otimista para todo o ano de 2010. Os analistas da CEA projetam vendas de 11,5 milhões de aparelhos e cerca de US$ 1,5 bilhão de receita. Blu-ray 3D da Samsung esperado para este ano No entanto, quando o assunto é Blu-ray no Brasil, o crescimento ainda vai ser tímido. Os fabricantes estimam que sejam vendidos 150 mil aparelhos este ano, 50 mil a mais que em 2009. No ano passado, apenas 6% de todos os produtos de vídeo correspondiam aos tocadores de filmes em alta definição. Apesar dos números, o clima é de otimismo. A indústria espera que o mercado de Blu-ray siga o rastro das vendas de televisores Full HD para a Copa do Mundo da África do Sul e apresente crescimento ainda maior. “Não podemos dizer quantos aparelhos a Samsung pretende produzir para a venda, mas posso afirmar que iremos dobrar o volume de produção”, explica Márcio Portella, diretor da divisão de eletrônicos de consumo da Samsung. Saiba mais… Confira os principais modelos de Blu-rays disponíveis no mercado Blu-ray mais acessível Para a LG, não só a Copa do Mundo irá alavancar as vendas dos Blu-rays no Brasil, mas também a maior quantidade de títulos disponíveis para compra. “O mercado vai decolar quando o preço cair, mas não adianta o aparelho ser barato e conteúdo ser caro. É o conjunto que vai fazer o Blu-ray seja mais procurado”, explica Rafael Gris, gerente de produtos de áudio e vídeo da LG. O início da produção de aparelhos na fábrica de Manaus da LG no fim do ano passado trouxe boas expectativas de vendas para a empresa. O modelo mais barato da companhia custa R$ 599 e é uma das apostas para conquistar o mercado. “Queremos vender cerca de 20% de aparelhos este ano”, afirma Gris. O desconhecimento dos consumidores quanto a nova tecnologia é outro ponto que merece destaque. O grande questionamento é o que muda e por qual motivo deve-se comprar um aparelho de Blu-ray. Aspectos como a alta qualidade da imagem, o maior espaço da mídia — que possibilita a inclusão de vários extras — e o preço ainda passam despercebidos para o consumidor. “Temos que educar o consumidor, mostrar para eles que com o Blu-ray ainda é possível tocar DVD. O Blu-ray é apenas um adicional ao aparelho”, afirma Gris da LG. A concorrência com o DVD tradicional também é um dos empecilhos para a popularização do aparelho. No ano passado, foram vendidos 4,2 milhões desse aparelho. Para este ano, a expectativa é de 3,7 milhões. Mesmo com a queda, a demanda ainda continua forte. Por isso, os fabricantes ainda são cautelosos em anunciar o fim do DVD tradicional. “Quando souber de alguém que tenha essa data me avise”, brinca Portella, da Samsung. Região A O preço dos filmes e shows em blu-ray também é um entrave para o crescimento do aparelho no Brasil. O sucesso de bilheterias do diretor James Cameron, Avatar, não é vendido por menos de R$ 79 nas lojas. É nesse ponto que a divisão das regiões para distribuição dos filme Blu-ray favoreceu o Brasil. O continente americano e a Ásia Central fazem parte da região A. Com isso, grande parte dos títulos de Blu-ray já começam a chegar aos Estados Unidos e Hong Kong com legendas e áudio em português. O mesmo filme de Cameron sai por US$ 19,90 (R$ 35) na Amazon.com. No entanto, nem todos os títulos são vendidos assim. Para facilitar o serviço de busca por Blu-rays legendados em português, o analista financeiro Fábio Vasques, 28 anos, criou o site Blu-Rays Legendados. Na página, é possível encontrar produções antigas, lançamentos e, o melhor, preços baixos em diversas lojas do mundo. “Eu participava de um fórum na internet, no qual os usuários compartilhavam os títulos legendados. Mas, a busca não era fácil. Por isso, tive a ideia de reuni-los em um site”, explica. A página teve mais de 30 mil visitas no mês passado. O site possui apenas filmes e shows que rodam em aparelhos do Brasil e que possuem legenda e áudio em português. “Vou atrás de reviews em outros sites que detalham o conteúdo dos discos. No site, todos eles têm legenda em português. Há títulos em português de Portugal, que são identificados com a sigla PT-PT”, afirma. Para Vasques, este ano o Blu-ray vai ter um avanço bem maior que o ano passado. “Temos a maior parte das grandes distribuidoras no Brasil lançando os discos quase que simultaneamente com os DVDs tradicionais”, explica. O grande problema do site, aponta o analista o financeiro, ainda é o medo das pessoas em comprar discos do exterior, por causa do idioma das páginas — geralmente em inglês — e as dúvidas sobre frete e taxas de importação. A solução foi didática. Há no site um vídeo explicativo e um guia para iniciantes. A indústria também tenta diminuir o preço da mídia com a implantação de fábricas no Brasil. A Microservice iniciou no fim do ano passado na fábrica de Manaus a produção de mídias Blu-ray. O local é capaz de fornecer até 400 mil unidades de discos por mês. A unidade já produz os discos nos formatos BD25 (25GB) e BD50 (50GB). “Acreditamos no potencial desse novo mercado que, a partir de 2010, irá trazer bons frutos para todos os elos da cadeia”, afirmou Isaac Hemsi, diretor da Microservice, durante o início da produção.

Fonte: Correio Brasiliense – 15/06/2010.